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Briton Riviere (1898)
Por Airton Vieira
Quinta-feira da Paixão (Estação em S. Apolinário e S. Maria “a nova”)
Entretanto, que a contrição de nosso coração e a humilhação de nosso espírito nos permita achar bom acolhimento junto a vós, Senhor. Que assim possa ser hoje o nosso sacrifício em vossa presença!
(Dn 3, 25.34-45)
Trazendo novamente, neste quarto dia da Paixão, o profeta Daniel, a liturgia epistolar o une, pelo Evangelho, à figura de S. Maria, “a nova”, que no reconhecimento amoroso buscou “sem vergonha” o perdão de seus muitos pecados (cf. Lc 7), encarnando assim a oração de Azarias, um eco do salmo 50: “Um coração contrito e humilhado, Senhor, Tu não desprezas”.
Os dias atuais, na esteira de um Humanismo evolutivo que já beira ao transhumanismo (!), nos leva, por assim dizer, pela mão a um cada vez menos sutil e camuflado neopelagianismo que, quando muito - e por questão de tempo -, apenas superficialmente reconhece no Criador o autor de todo o bem, e em seu Cristo o Redentor do homem. O vemos, por exemplo, na sede de reconhecimentos diversos, reduzindo a vida humana, em um número crescente de almas, a “likes” e “inscrições” de suas “redes sociais”; o que mingua o reconhecimento e aceitação de nossa condição de pecadores, portanto, devedores e contingentes da graça e o perdão divinos.
O remédio mais eficaz à néscia e desvairada soberba humana manifestada em homens e nações, foi sempre o de permitir que as consequências de seus atos mostrassem a esse “homem fraco, de vida breve” (Sb 9,5) que “Deus (é o) único e glorioso em toda a Terra” (Dn 3,45), e para além dela. Ainda que tantos outros se obstinem até à morte em não se dobrar a esta inexorável realidade. É o que nos ensina a “Mulher pecadora” na icônica cena do Evangelho de S. Lucas, que foi consignado para proveito mas de quem “tem olhos para ver e ouvidos para ouvir”.
Via de regra a mola motriz do suicídio é o desespero, como já nos demonstrava Judas, o Iscariotes. A falta de esperança, que possui íntimos liames com a soberba motora do neopelagianismo atual. O homem deixa de esperar em Deus porque no fundo espera em si. Ao não encontrar mais nenhuma outra possibilidade fora de si, e vendo que em si já não há mais o que esperar, pois se esgotou o que pensava ser inesgotável, opta pela única condição capaz de não se alcançar o perdão divino e com ele salvar sua alma: o não buscar o perdão, o que é um não ao Amor criador pelo excesso de "amor" ao criado, e que é idolatria pura e simples.
A solução é o humilde e sincero arrependimento capaz de desesperar de si para esperar em Deus.
O problema é que, já sequer conhecedores da tabuada, já perdemos a mais elementar noção da dimensão de Deus, do Deus que tudo fez com “medida, peso e quantidade” (Sb 11,21).
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