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Briton Riviere (1898)
Por Airton Vieira
Sexta-feira da Paixão (Estação em S. Estêvão no monte Célio)
“Senhor, todos os que Vos abandonam serão confundidos; os que se afastam de Vós, serão apagados da terra, porque deixaram o Senhor, que é a fonte das águas vivas." (Jr 17, 13-18)
No quinto dia desta Semana, a Epístola nos apresenta a oração do profeta Jeremias, que a liturgia associa a Cristo, o Justo por excelência. No extrato escolhido, uma constatação com forte apelo poético, que se tentará algo explorar com uma singela narrativa com direito à “moral da história”.
Conta-nos um sacerdote que sua dentista recebera uma paciente de 8 anos com um preocupante problema. Tão preocupante que foi conduzida ao consultório dentário por um verdadeiro “batalhão familiar” composto de sua mãe, (provavelmente) a irmã de sua mãe e (provavelmente) a filha desta irmã de sua mãe; todas talvez preocupadas com a gravidade do problema, ou com a gravidade da reação, pois via de regra os pais costumam se orgulhar do bom comportamento de seus filhos, quando lhes ensinam bem, ou se envergonhar, quando lhes ensinam mal. Também porque sabem que em última instância quando se é menor, a responsabilidade maior recai naturalmente sobre os maiores.
Não sei se temendo mais o sofrimento ou o faniquito da menina, ocorre que tão logo chegado ao local, o trio, em uníssono tenta dissuadir a infante de que “iria doer”, portanto, fosse tranquila, que tiraria de letra e que assim, temer não carecia. A dentista, que ouvia a tentativa nada veraz de incentivo à desventura dentária, ou desincentivo ao chilique infantil, para a surpresa geral diz que sim, que irá doer, como todo tratamento dentário, mas que faria o possível para doer menos.
Feito o procedimento, semanas depois retorna o quarteto com a paciente mirim fazendo jus à sincera essência infantil ainda de todo não corrompida, dizendo à dentista que a adotaria como sua profissional, uma vez que todas haviam mentido a ela, à exceção da própria, que lhe disse a verdade porque de fato o tratamento havia doído.
Até aqui, a história.
A água é por certo o elemento natural para se extinguir o fogo. E Cristo é a Verdade encarnada, fonte das "águas vivas", que extingue o fogo mortal que nos procura arder. Sem a água da verdade nos tornamos mentirosa e enganadoramente secos. E secos, mais facilmente arderemos. Assim, afastados de Deus, banindo-o de nossas vidas, ainda que à conta gotas, imperceptivelmente através dos apelos da carne, do mundo e do demônio a que diariamente sucumbimos, nos reste apenas a mentira, o erro e engano, mesmo sob o abrigo das boas intenções.
Não é injusto, portanto, que sejam apagados da terra pela Água Viva “todos os que Vos abandonam… os que se afastam de Vós”, e que arderão, por todo o sempre, no Fogo Eterno. “Porque, se isto se faz ao lenho verde, que se fará ao seco?” (Lc 23,31).
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